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Um homem feliz – surpresa

  • 14 de Setembro, 2024
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Créditos/Fonte: Um conto erótico de Gabriel

“Amanhã será um lindo dia

Da mais louca alegria

Que se possa imaginar

Amanhã, redobrada a força

Pra cima que não cessa

Há de vingar”(…)

Nunca a poesia de Guilherme Arantes foi tão útil na nossa história. Passadas três semanas após meu regresso ao Brasil, estou prestes a concentrar-me em Marcos. O processo com o jovem Leandro Alves de Lima foi intenso, com reviravoltas mas um final feliz. Ele foi inocentado pelo júri e vamos entrar com ação pedindo indenização. Mas isso é pra outro momento.

Guardei aquele cartão como se fosse a minha vida. Prestes a descobrir o verdadeiro culpado por todo sofrimento que Marcos está passando.

Porém, ao abrir o conteúdo do cartão, encontrei muitas gravações aleatórias, sem data correta e alguns trechos não visíveis, causas de uma câmera obsoleta e nas mãos de uma pessoa inexperiente em tecnologia.

Assim, para ajudar chamei João Paulo, o técnico mais foda que eu conheço. Já venci processos por causa dele, e ele sabe disso. Nunca se gabou, entende seu papel como uma ferramenta de justiça.

E é por isso que somos grandes amigos.

– Fala, doutor?

– João, meu querido. Preciso de um help.

– Manda

– Tenho em mãos um cartão de memória com muitas imagens, porém com datas e horários errados. Quero que você busque duas pessoas em particular. Vou mandar as fotos deles.

– Sabe que isso vai demorar dias, né?

– Sim, estou ciente. Faça o que for necessário.

– Combinado. Falamos em alguns dias.

Hora do almoço. Fiquei com muita vontade de conhecer o novo restaurante do shopping. Amo a comida italiana.

O celular vibra. É Marcos.

– Oi!

– Amor…vou falar rápido. Chacal descobriu onde estava escondido. Mandou aquele delegado atrás de mim. Vou precisar fugir para o Norte, pra Braga.

– Marcos, qual lugar você vai?

– Tenho um conhecido que mora num sítio afastado do centro. Vou ajudá-lo disfarçado. Cortei o cabelo e a barba.

– Nossa, manda uma foto. Mas se precisar, fala que envio mais dinheiro.

– Ok.

Uma foto chega. O safado enviou um nude com o novo visual.

– Tá bem gostoso.

– Aprovou?

– Super. Quero provar cada parte sua.

– E eu que tô com saudade desse rabo. Não paro de pensar no seu cu apertado e quentinho.

– Aí, que tesão.

– Vamos! – ouço uma outra voz ao fundo.

– Preciso ir amor. Quando chegar lá, ligo.

– Por favor, mande notícias.

De repente, paro em um semáforo. Meu olhar é rapidamente levado para duas crianças lindas mas bem sujas. Suas roupas estavam rasgadas. O olhar delas exprimia o desejo de serem socorridas daquela situação de miséria.

– Ei, vem aqui!

– Boa tarde, sr. Tenho balas de hortelã, canela e café. – Qual deseja?

– Qual é seu nome?

– Pietro da Silva.

– Quantos anos?

– 10 anos.

– E sua amiga?

– Camila, minha irmã. Tem 6 anos.

– Cadê a mãe de vocês?

– Tio, não interessa. Vai querer ou não?

O semáforo abriu.

– Desculpe, tenho que ir.

– Ah, vai se foder. Arrombado.

– Olha o respeito, garoto.

Acelerei e continuei na avenida, rumo ao shopping. Mas aquele garoto, despertou a curiosidade dentro desse advogado. Afinal, todos têm o direito de serem livres.

Durante o almoço, não parei de pensar neles. O que será que almoçaram? Moram na rua? Praticam algum crime?

Voltei ao semáforo. Sumiram. Mas vi outros garotos e suspeitei que sabiam do paradeiro dos dois.

– Ei, aqui!

– Conhece o Pietro e a Camila?

– Claro. Gente boa.

– Onde moram?

– Na favela do K9.

– Certo, mas exatamente?

– Na viela do bonde, do lado do bar do Tião.

– Ok, obrigado.

– Opa, não vai levar nada pela informação?

– Sim, quero halls preto e azul.

– Tá na mão, tio.

Dei 10 reais.

– Daora, tio.

– Pode ficar o troco.

– Deus te pague.

Avancei rumo à favela do K9. Existe uma associação de moradores e por sorte, tinha contato com o líder, José Francisco (vulgo Chicão).

– Dr. O que faz por aqui?

– Chicão, conheci duas crianças que moram aqui. Pietro e Camila.

– Ah, coitados.

– Por quê?

– A mãe deles está com câncer terminal e fica o dia todo na cama esperando a morte chegar. Vejo aqueles garotos saírem 5h da manhã pra tentar ganhar algum troco e voltam só a noite.

– Nossa, e vocês não conseguem ajudar?

– Sim, mas ainda é pouco.

– Não tem parentes?

– Não, ela é filha única e os pais já morreram.

– Quero ajudar. Vou visitá-los.

– Tome cuidado

– Certo, muito obrigado.

Ao bater na porta, ouço:

– Quem está nessa merda? Será o cobrador do aluguel?

– Pietro abre.

– Bom dia! Não me reconhece?

– O que quer?

– Ajudar, rapaz.

– Não precisa, tchau.

– Calma, moço. Vocês precisam de um suporte, pois a sua mãe está…

– Cala a boca! Não tem nada.

– Como assim?

– Tá ótima e não precisa da sua ajuda. Pode ir embora?!

– Vim com sinceras intenções.

– RU-A!

Ao retornar a porta, me deparo com um retrato. O homem tinha um olhar assustador. A mulher estava cansada, com uma criança menor no colo e um garoto grudado nela.

– Cadê seu pai?

– Chacal?! Ele sumiu. Na real, não temos pai. Não temos ninguém.

– Oi?! Chacal?!

<(Continua no próximo capítulo)>

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